Postagens

é só uma fase

1. Nem sei o que estou fazendo aqui, falando sozinho - como se já não o tivesse feito durante as últimas 48 horas. Vou encarar isso como um diário que, embora talvez ninguém nunca leia, tem a missão de suportar o peso dos pensamentos que não me cabem mais dentro da cabeça. Cheguei à fase do vazio. Passada a fase Super-Homem - posso tudo / sinto nada, vem a fase do vazio. Sinto nada, e só. É claro que este é o resultado óbvio da vontade de não sentir, ou do medo, se assim preferir. Medo. Vazio e medo andam comigo desde sempre, lado a lado. Um abre caminho pro outro, num ciclo sem fim de incertezas e não-buscas. As não-buscas são aquelas lutas que não se realizam, simplesmente por parecerem muito maiores e pesadas do que meus braços e pernas poderiam suportar. Decido-me, recorrentemente, então, pelo óbvio: evitar a luta que não penso poder vencer. Medo - covardia - vazio. É, acho que esta é a ordem.  O vazio me corrói por dentro desde que posso me lembrar. Há tempos vinha evit

segunda tentativa

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Três anos. Um bom tempo, desde minha última postagem. Muita coisa mudou, desde então. Neste momento escrevo da sala dos professores, com um copo de café do meu lado esquerdo, uma pequena pilha de avaliações do lado direito e Radio Moscow tocando no YouTube. Isso aí, agora sou professor! Dá pra acreditar? Na verdade isso é novidade apenas aqui no blog - já é meu terceiro ano como Sociology teacher. Eu quis tanto isso, e é como se só hoje a ficha realmente tivesse caído. Dá pra perceber pelas postagens antigas (não as leia, por favor) que eu era - ou andava sendo - um sujeito chato pra caralho. Não chegava a ser depressivo, mas um tanto descontente, descrente e pessimista com relação à vida. A falta de propósito ou perspectiva pode transformar uma pessoa em um saco de batatas ambulante. Mudanças são boas. A maioria delas, pelo menos. A profissão e a cidade certas dão uma injeção de ânimo numa carcaça cansada e preguiçosa. Isso tudo faz o maluco ter energia pra mais alguns anos de louc

dor de cabeça

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Mais um dia chuvoso em Curitiba. No ônibus, um sujeito de cara amarrada exalando amargura desfere um enfático e grave “não”, quando cordialmente pergunto se ele poderia pular para o próximo assento, para que eu e minha mulher pudéssemos nos sentar lado a lado. Não bastasse a falta de beleza do dia frio, úmido e cinzento – típico dia do outono curitibano, ainda me vejo obrigado a engolir este tipo de comportamento, às dez para as sete da manhã de terça-feira.  Achei por bem responder com um sonoro e irônico “valeu, viu companheiro? Brigadão aí. Bom dia pra você viu?”, e deixá-lo aproveitar os olhares de reprovação das pessoas ao redor. O próximo ônibus chegou rápido e para nós, pelo menos, ficou tudo bem. Geralmente me sinto bem em dias frios e cinzentos. Mas este começou diferente. A ideia de que terei de trabalhar na sexta, pós quinta-feira de Corpus Christi , e de que o tempo chuvoso e frio não deixa que minhas roupas de cama, lavadas no domingo, sequem até o feriado, nã

ah, a insônia...

Me cansei de tudo o que escrevo - de tudo o que já escrevi. Me cansei de sempre pensar com a mesma voz. Enjoei da voz da minha cabeça. Talvez por isso eu não escreva há algum tempo. Tenho essa mania besta de nunca gostar do que eu mesmo faço. Autocrítica? Pode ser. Ou TOC mesmo. Ou medo. Conversando com uma amiga, na semana passada, descobri que sempre tive medo do julgamento alheio. Medo de ser testado - e não passar no teste. Existe coisa mais idiota? Ninguém liga pro que você faz, ou se faz bem ou mal feito. As pessoas estão preocupadas demais com seus pequenos problemas diários. Enquanto você acha que alguém está te observando e te analisando, ele provavelmente está pensando no que tem pra fazer à noite, nas contas a pagar ou na garota que passa lá atrás de você, em frente ao café do outro lado da rua. Pensamos demais. Perdão, eu penso demais. Nunca se pode falar pelos outros, certo? Ora, admita: às vezes podemos, sim, generalizar. Generalizando, pois, digo que gostamos de pens

trilhos

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Que o tempo passe junto, ao lado - ou longe, tanto faz... por cima, nunca. Ele passa como um trem, pesado e barulhento, desgovernado. Não cessa, não para. Não tem maquinista, não muda de sentido ou direção. Como um bom trem, corre sobre trilhos. Sempre sobre os mesmos trilhos intermináveis. Não pensa, não sente, não se importa. Os trilhos do trem do tempo não permitem desvios. Apenas seguem, e seguem. É ilusão pensar que se pode estar sobre o trem do tempo. Ingenuidade. Se ficar na linha, o tempo passa por cima de você.  Quero as estradas, não os trilhos. O tempo continuará passando sempre. Mas não por cima de mim. Estradas são escolhas. Você nunca será totalmente livre, nunca mesmo. Não no mundo em que vive. Não do jeito que nosso mundo é. Mas terá escolhas, se viver por estradas ao invés de trilhos. Imagine, para quem só conhece a vida nos trilhos, de repente poder mudar de sentido, de direção! A possibilidade da partida é carregada de incertezas, e incertezas tem cores, cheiros

ar

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Hoje me veio, de súbito (lugar comum literário que me causa certa náusea, mas que eu tinha que usar, apenas pra fazer este comentário inútil entre parênteses), uma vontade lascada de sair correndo. Não pelado, como disse em um post que fiz há algum tempo. Não quero passar a ideia de ser um naturalista enrustido. Só sair correndo, seja a pé ou motorizado. Tenho uma falta de ar característica, que me aparece sempre que me sinto preso. Não é proveniente do cansaço, muito menos de problemas respiratórios. Chame de stress , se quiser, mas ainda acho que usar palavras genéricas em inglês pra explicar coisas sem um motivo aparentemente concreto é um pouco clichê, como usar "de súbito" ao invés de "de repente" para que o texto pareça "bem escrito". Se quer um texto "bem escrito", não exagere assim nas "aspas". Fica feio. A explicação para esse meu problema deve ser a falta de vento na cara, mesmo gelado, em dias como hoje. A propósito,

brilhante, a mente humana

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- Ai menina, você não sabe da maior! - Que foi? Conta, conta, conta ! - Meu cunhado, Juliano, tá tendo um caso! Uma garota da turma dele, tal de Amanda não sei das quantas. - Nossa, como assim? A Ju sabe? - Foi ela quem me contou! Ela pegou um email da tal sem-vergonha pra ele, dizendo que foi muito bom, que se sentiu segura, que não sei o que lá... acredita? meu, que raiva dele! - Não creio! Mas e ela, vai fazer o quê agora? - Já fez! Pegou um carinha lá que faz curso com ela... o cara era a fim dela, dava moral e tal, aí ela saiu com ele anteontem. - E foi? - Foi! - Nossa, que loucura! Mas é isso mesmo, tá certa ela! Ele mereceu! - Uniu o útil ao agradável, né? O cara era bonitinho. - Eu teria feito o mesmo, sem dó! Homem é tudo igual mesmo, tem que sofrer na mesma moeda! E o Juliano sabe disso? - Não sabe não. E nem sabe do e-mail, também; ela apagou. Tá certa ela, ele iria desmentir, falar um monte de baboseiras pra ela e a coitadinha ia acabar caindo. Mulher é muito boba, sempre